os pedais e os livros

abaixo, coluna publicada no riovale jornal, aqui de santa cruz do sul, apoiador da operação banda oriental.

sobre o “limbo existencial” que estou vivendo neste momento de meu treinamento.

entre por aqui, ou diretamente na imagem.

abaixo dela, texto completo.

colina-15-de-outubro

Pedalando livros

Demétrio de Azeredo Soster
Professor universitário, jornalista, cicloturista

deazeredososter@gmail.com

Outro dia, em uma pedalada rápida até Sinimbu – aqui do lado; ou seja, pouco mais de 50 km ida e frida – dei-me conta que estou em uma espécie de “limbo” existencial quando o assunto é a “Operação Banda Oriental”.

Ou seja, daqui até o dia da partida (que, por sinal, ainda precisa ser definido), tudo o que tenho de fazer é pedalar, se possível por distâncias ainda não percorridas, e, com isso, manter-me em forma.

Claro que, como contei na última coluna, ainda falta alguma coisa a ser comprada – a GoPro, para as filmagens (a ideia é um documentário ao final da viagem); uma barraca, um telefone mais decente que o atual, alguma roupa; enfim, pouca coisa.

Por que limbo?

Porque daqui até dezembro, quando devo pegar a estrada, temos, ainda, pouco mais de dois meses, o que, por si só, não é muito, mas se torna bastante se considerarmos que, a julgar pela minha vontade, poderia partir hoje, sem problemas.

Angústias à parte, estou aproveitando para me informar mais, para aprender melhor.

E conhecimento, para mim, tem tudo a ver com livro.

Como já li mais de dez deles até o momento, divido com vocês uma espécie de categorização das obras que estou elaborando – coisa de professor; não liga –, que se dividem, grosso modo, em: relatos de viagem; relatos/reflexões pessoais, com uma leve queda para a auto ajuda; relatos de viagem misturadas com reflexões pessoais; e, finalmente, literatura instrumentalizante.

O primeiro grupo – relatos de viagem – é o que mais se encontra. Ou seja, gente de diz, linha após linha, o que fez e o que deixou de fazer. Observem que eu usei o verbo “dizer”, que é bem diferente de “narrar”: narrar tem a ver com estruturas a frase, provocar sensações a partir do vivido, ampliar horizontes. Coisas assim.

Insiro neste grupo “Trilhando sonhos: 365 dias de bicicleta pela América do Sul”, (Editora Extremos, 2014), de Thiago Fantinatti, e “Estrada da morte & caminhos da fé” (99 e-books, 2015), de José Vanderlei Dissenha.

O segundo item – reflexões pessoais, com uma leve queda para a auto ajuda – também se destaca.  Não é tão frequente quanto o primeiro item, mas dá pra dizer que é bem fácil encontrar um livro sobre cicloturismo que fale, sobretudo, do que se aprende com a prática.

É o caso de “O mundo sem anéis: cem dias de bicicleta” (Editora Longe, 2013) de Mariana Carpanezzi, e “Quatro países: europa de bicicleta” (Edição do autor, 2015), de Paulo Mendes.

O terceiro item diz respeito mais aos livros de longas pedaladas, caso do Transpatagônia (Kalapalo, 2015), de Guilherme Cavallari, ou, ainda, “O ciclista mascarado: uma aventura de bicicleta na África ocidental” (Belas Letras, 2016), de Neil Peart, baterista do Rush. Nestes, encontramos, à farta, narrativas e reflexões.

O quarto e último grupo, na minha classificação, é o que chamo de literatura instrumentalizante, ou seja, livros caráter “manual”, que visam, principalmente, ajudar os ciclistas a dar conta de suas viagens do ponto de vista prático.

Tipo trocar um pneu, consertar uma corrente, essas coisas. Neste grupo se encaixam “Manual de mountain bike e cicloturismo” (Kapalalo, 2012),  de Guilherme Cavallari, e “Guia essencial de ciclismo (On line editora, 2015).

Prefiro o terceiro grupo, ou seja, relatos de viagem misturadas com reflexões pessoais. Tem a ver com o que, de certa forma, estamos fazendo aqui, neste espaço: aprendendo e refletindo sobre o que se aprende..

Quer saber mais sobre minhas leituras? Visita meu site: https://operegrinosite.wordpress.com/leituras-de-viagem/

Bora pedalar, então!

 

 

 

“E se alguma coisa acontecer na estrada?”

por aqui, e clicando diretamente na imagem, você acessa a coluna veiculada sábado 1º de outubro, no riovale jornal, apoiador da operação banda oriental.

logo abaixo, o texto na íntegra.

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“E se alguma coisa acontecer na estrada?”

Os preparativos à Operação Banda Oriental estão entrando em um momento particularmente curioso, basicamente porque resta muito pouco a ser feito que não comprar mais algum equipamento, cuidar do peso e seguir pedalando.

Refiro-me, no que toca ao equipamento, à câmara GoPro, pensando no documentário que quero fazer depois da viagem; um telefone mais decente que meu iPhone 4s atual; barraca e alguma roupa de verão, pois a que tenho é basicamente de inverno.

Quanto ao peso, é me manter na casa dos 90 kg, onde estou neste momento, o que não é tarefa difícil, especialmente nestes dias quentes de verão que se aproximam.

De resto, está tudo pronto.

Especificamente sobre meu desempenho sobre as duas rodas de La negra 2, minha bike, a julgar pelo que tenho pedalado, em torno de 100, 120 km por final de semana, penso que está chegando a hora de partir.

Claro que tenho de pedalar um pouco mais no calor, pra me adaptar mais ao novo clima, já que meu treinamento foi feito todo no inverno, mas isso é coisa que se resolve com mais três ou quatro saídas e algum protetor solar, coisa que já comprei, inclusive.

O que está difícil de segurar é a ansiedade dos amigos e parentes para com a data da partida, mas, também, o espanto deles por saber que eu vou sozinho.

Semana passada, por exemplo, em plena Japaratinga, litoral norte de Alagoas, onde estive por uma semana em um congresso, à beira mar, correndo sempre que possível, mas sem pedalar, todas as pessoas que ficavam sabendo da Operação Banda Oriental se espantavam a) ao saber que eu pedalaria 2 mil km e, ato contínuo, b) que o faria sozinho.

E aí, dê-lhe explicar…

Se fosse só os conhecidos, tudo certo; afinal, as pessoas são curiosas mesmo e não é todo o dia que aparece um maluco defendendo as virtudes do cicloturismo de longa distância, mas com os amigos e parentes a coisa é bem mais séria.

Tipo:

“Tá, mas você não vai sozinho, vai?” (Sim, sim; eu vou sozinho.)

“Mas a Fabi vai atrás de carro, não vai?” (Não, a Fabi não vai atrás, de carro…)

“E se alguma coisa acontecer na estrada?” (Eu ser atacado por um tatu, por exemplo?)

“Barraca? Pra quê barraca?” (Pra equilibrar o peso da bike, sabe; dizem que funciona muito bem como contrapeso…)

Claro que tudo isso também significa que o pessoal não apenas gosta de mim como se preocupa com meu bem-estar, mas que é divertido, não tem como negar.

O fato é que o dia de partir está chegando – falta em torno de quatro meses, ainda – e, mesmo que a dia exato da saída, e o roteiro (já explico), estejam em aberto, sinto-me muito bem e pronto para pegar a estrada.

O certo é que o farei entre dezembro e janeiro, talvez fevereiro; tudo depende de alguns compromissos que apareceram por estes dias e que estão me fazendo rever o calendário.

E ainda tenho de decidir se entro no Uruguai por Santana do Livramento ou pela Chuí, ainda que esta escolha não interfira significamente em nada, ainda que ela, a escolha, seja tomada porque talvez passemos o ano-novo juntos – a família e eu – em algum lugar da Banda Oriental.

Quando eu decidir, conto a vocês.

Bora pedalar, então?

 

coluna veiculada no site tudo & todas

abaixo, coluna veiculada no site tudo & todas, da folha do mate, de venâncio aires, apoiadores da operação banda oriental.

você acessa a coluna por aqui, ou clicando diretamente na imagem.

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abaixo, texto na integra, já que diretamente da imagem é complicado ler.

Quando é que você parte, mesmo?

Demétrio de Azeredo Soster
professor universitário, jornalista, cicloturista
deazeredososter@gmail.com

A Operação Banda Oriental está chegando em uma etapa curiosa: a pouco menos de quatro meses da hora de partir, e a pouco mais de seis meses desde que a decisão foi tomada – em meados de abril – os preparativos chegaram a uma espécie de limbo existencial, onde pouco, ou quase nada, de diferente acontece.

Calma que eu explico.

No começo, e os que me acompanham aqui no site devem lembrar, tudo eram flores: recordes pessoais quebrados, a cada semana um equipamento novo, desafios em série, erros, acertos os mais diversos; sonhos, muitos sonhos, caminhos antes nunca percorridos, e por aí afora.

Não que isso tenha mudado; melhor dizendo, não que as descobertas não sigam ocorrendo a cada nova pedalada: tudo isso está lá, em seu devido lugar, mas a intensidade não é mais a mesma.

Ou seja, estou amadurecendo, ficando pronto, preparado, e isso significa, em termos práticos, que logo terá chegado a hora de partir.

E sabe o que é melhor? Estou tranquilo – um pouco ansioso, é verdade; mas tranquilo: a hora, como disse, está para chegar; e, quando isso ocorrer, estarei preparado.

O mesmo não posso dizer, no entanto, de meus queridos amigos e parentes, que tanto torcem por mim.

Na relação com o pessoal, próximo ou distante, a situação é um pouco mais complicada.

Tipo: a cada pessoa que encontro, cada vez que digo de minha viagem a alguém, a pergunta, inevitável, acontece: “Tá, mas, afinal de contas, quando é mesmo que você vai?”

Se não for essa, são as variações: “Você vai sozinho mesmo?” (Sim, gente, eu vou sozinho…); “Não tem medo?” (Não, não tenho…), ou, ainda, “Tá, mas a Fabi e o Pedro vão de carro, atrás, né?” (Jesuis…)

Estou começando a achar, inclusive, que, para o bem de minha sanidade mental, talvez eu devesse antecipar a viagem, montar com o photoshop umas fotos em que eu apareça em alguma estrada do Uruguai e postar no face, pedir que algum amigo de lá poste no twiter que me viu passar por pela Ruta 1, essas coisas…

Enquanto não me vem à cabeça uma ideia melhor; afinal, são meus amigos, e estão preocupados – é preciso ser gentil, sigo firme, pedalando, e aprendendo.

Dia dessas, por exemplo, descobri o que não havia percebido, ainda: que, no verão, a neblina pega logo cedo por estes lados, e que, quando isso acontece, não dá para deixar o farolete dianteiro em casa, como deixei.

Foi o que aconteceu outro dia, quando fui e voltei de Pantano Grande pela RS-471, total de 105,75 km percorridos nos dois sentidos; velocidade média de 19,4 km/h, máxima de 44,9 km/h, pulso em 130 bpm na chegada.

A neblina me encontrou em Santa Cruz, ainda, e me deixou somente em Rio Pardo, 35 km depois.

É dizer, por outras palavras, que pedalei no escuro, literalmente por uma hora e meia, pelo menos, e que não posso mais esquecer disso, pois pode ser muito perigoso e tals.

Claro que, depois, o sol apareceu no céu, todo lindão, e aí meus problemas voltaram a ser basicamente o calor e a ausência do protetor solar, mas essa história já contei.

Bora pedalar, então gente; que logo logo terá chegada a hora de partir.

 

Coluna do Riovale Jornal

coluna publicada dia 17 de setembro no riovale jornal, aqui de santa cruz do sul, aóiador da operação banda oriental, agora com foto nova, mas propícia aos dias quentes que se aproximam.

por aqui e diretamente na foto.

abaixo na coluna, o texto na íntegra.

coluna-dia-17-de-setembro

Ainda sobre a nova estação

Foi no pedal da semana passada, quando varei o Jacuí em direção a Pantano Grande, e de lá para cá, em um pedalada de pouco mais de 100 km, que descobri que não é só com o calor que devemos nos preocupar, os cicloturistas, no verão.

Melhor dizendo: que não é porque está começando a esquentar que a gente tem de se tornar relapso com os cuidados e preparativos, em particular aqueles que, como eu, farão em breve uma longa distância pedalando – no meu caso, 2 mil km, pelo menos.

Calma que eu explico.

É que, na semana passada, aproveitando a previsão de um domingo ensolarado, sai cedo de casa – às 7h30 – em direção a Pantano Grande, logo depois de Rio Pardo, e distante cerca de 50 km aqui de casa.

A escolha se mostrou acertada de saída: céu azul na Verena, onde moro, e temperatura na casa dos 15ºC e subindo; ou seja, tudo certo.

Calibrei os pneus de “La Negra 2”, minha bike, e segui em direção ao Arroio Grande, de onde pegaria a BR 471.

Ocorre que, ao chegar na altura do Faccin Bicicletas, apoiadores da Operação Banda Oriental, a neblina simplesmente tomou conta de tudo, reduzindo a visibilidade para algo em torno de três ou quatro metros, se muito.

Logo viria a descobrir, ciclista incauto que sou, que ela, a névoa, me acompanharia pelos próximos 35 km, e que só cederia lugar ao sol em Rio Pardo.

Até aí, nenhum problema, não fosse o fato de eu ter decidido deixar em casa o farol da frente, imaginando – afinal, é verão; não é verdade? – que o sol ficaria comigo o tempo inteiro, e baseado no fato de, no inverno, eu não ter enfrentado, nem mesmo na serra, uma pedalada sequer com neblina.

A sinaleira traseira, e a que mantenho fixa em meu capacete, estavam lá, firmes, avisando aos que vinham de trás que havia ciclista na estrada, mas na perspectiva frontal o mesmo não podia ser dito.

Ao cruzar com dois ou três grupos de “speeds” – ciclistas de velocidade – que vinham em direção a Santa Cruz do Sul; portanto, no sentido contrário ao meu, devidamente equipados com faroletes dianteiros – me dei conta da péssima decisão que tomei.

Decisão ruim e arriscada diria, haja vista que, a qualquer momento, poderia ter sido atingido por um carro que, ao realizar uma ultrapassagem, invadisse o acostamento onde eu transitava.

Mas a sorte esteve ao meu lado e deu tudo certo; agora, é cuidar de andar sempre equipado, mesmo que o sol esteja alto.

Vale registrar, ainda, que a névoa atrapalha pra caramba os óculos de proteção, muito embora, nesse caso, e na falta de um “limpador de para-brisa”, uma paradinha rápida para secar a lente resolve.

E o resto do pedal?

Maravilhoso, em especial depois que o sol deu os ares de sua graça, em Rio Pardo, como disse.

Os números: 105,75 km percorridos nos dois sentidos; velocidade média de 19,4 km/h, máxima de 44,9 km/h, pulso em 130 bpm na chegada e algumas queimaduras na coxa, braços e rosto, o que reitera a importância de usar protetor solar na próxima, sem falta.

Bora pedalar, então!